Obesidade na criança e no adolescente  

 

Há cerca de 15 anos nota-se que a prevalência do excesso de peso e obesidade entre crianças e jovens adolescentes vem aumentando de forma assustadora tanto nos países industrializados como em países emergentes como a China, Rússia, Índia e Brasil, entre outros. Tomando como exemplo os Estados Unidos observou-se que cerca de 11% dos escolares apresentavam excesso de peso em 1990. Em 2005 este valor passou a ser de 29%. Em nossa Cidade de Manhuaçu, a realidade não é diferente.

A obesidade tem várias causas

O ser humano possui um complexo mecanismo controlador da Fome e da Saciedade que é estabelecido tanto na vida intrauterina como na fase pós-natal. Desde que haja aporte de suficiente de alimento na vida fetal este "termostato ou nutrostato" é perfeitamente regulado. Após ingerir comida suficiente - em qualidade e em quantidade - cessa o estímulo (fome) para continuar a refeição, estimulando-se a saciedade.

Na hipótese da criança, em gestação, receber poucos nutrientes vindos da mãe, passa a regular o seu "nutrostato" para a posição de fome continuamente. Terá alta probabilidade de ser obesa, na fase pós-nascimento, por ter fome constantemente. Na fase pós-natal o recém-nascido que foi amamentado por seis meses ou mais tem muito pouca chance de ser obeso comparativamente àqueles que não foram amamentados com leite materno. Fatores genéticos são importantes.

Muito recentemente verificou-se que boa parte das crianças obesas tem uma alteração em determinado gene (FTO = fator determinante de obesidade), que leva à fome compulsiva e predileção por alimentos de elevado teor calórico. O meio ambiente, é óbvio, tem um papel muito importante para que o gene se manifeste. Quando ambos os progenitores são gordos existe no ambiente doméstico uma valorização muito grande do fator "comida", quase sempre de elevado teor calórico. Frequentemente a família utiliza-se de fast-food, comidas pré-preparadas, refrigerantes, pipocas, salgadinhos, batatas fritas... Tudo isso acompanhado de horas de TV.

Lanches e salgadinhos na escola

Recente levantamento realizado em Manhuaçu/MG mostrou que na maioria das escolas havia uma ampla gama de salgadinhos disponíveis para escolares, todos ricos em gordura, altamente calóricos em embalagens atraentes. Mas pior ainda: as informações nutricionais das embalagens minimizam o conteúdo de gordura e de calorias, bem como do sal. Quase todas as embalagens não estavam corretas e não faziam referência à gordura 'Trans", altamente prejudicial ao nosso organismo e, possivelmente, pior ainda para as crianças.

 

O fator sedentarismo

Há cerca de 30 ou 40 anos, a imensa maioria da garotada corria atrás de balões, jogava bola na rua ou em terrenos baldios, andava de bicicleta, empinava-se pipas, nadava nas piscinas, nos lagos, nos riachos. Hoje, após as aulas e os deveres escolares, a criança e o adolescente vão direto ao computador (se tiver), ou à televisão. Os jogos eletrônicos atraem a garotada como mel atrai moscas. Os jogos acoplados à tela fazem com que o adolescente fique horas e horas sentado, com o gasto energético mínimo.

Os aparelhos portáteis (game-boy, DS, PSP) levam o adolescente a deitar-se no sofá, onde, por horas a fio, afasta-se do mundo, hipnotizado pelo jogo eletrônico. Existe uma correlação nítida entre ganho de peso e tempo dedicado à televisão/jogos eletrônicos. Quanto maior o número de horas na tela, maior o ganho de peso.

Consequências da obesidade infanto-juvenil

A mais séria consequência ao excesso de peso na infância e adolescência é a progressiva incidência de obesidade na vida adulta. Estatísticas demonstram que crianças e adolescentes obesos serão candidatos à obesidade na vida adulta em proporção superior a 50%, isto é, cerca de metade dos obesos infanto-juvenis terão que lutar contra o excesso de peso durante a vida adulta.


Além disso, as crianças e adolescentes que ultrapassam a barreira de um Índice de Massa Corporal superior a 95% são considerados como candidatos às mesmas comorbidades que os adultos - alterações nas articulações (principalmente joelho e coluna), pedras na vesícula, alterações nas gorduras do sangue (colesterol elevado, HDL-colesterol (colesterol bom)) baixo e propensão para doenças coronarianas em idade relativamente jovem (30 - 40 anos).

O tratamento deve ter a cooperação da família

O princípio fundamental é a mudança do estilo de vida: dedicar menos horas ao lazer sedentário e, pelo menos, uma hora por dia ao exercício aeróbico. Os gordinhos não gostam de Academia de um modo geral. A figura do pai é fundamental nesta parte do tratamento. O pai é que deve estimular o filho a acompanhá-lo em caminhadas, em dar umas voltas de bicicleta, em nadar no clube. Para as meninas nada melhor que ouvir música no Ipod e dançar sozinha, em seu quarto, ao balanço da música, fazendo sua coreografia, jogando braços e pernas ao ritmo da música, pensando em estar no palco, participando de um show.

A dieta ainda considerada melhor é a supressão dos carboidratos de alto índice glicêmico (doces, sorvetes, chocolates, arroz branco, pão branco, etc). Usar mais pão integral, arroz integral, legumes, verduras, saladas. Muita proteína (carne, peixe, frango, queijos, ovos) e NUNCA pular refeições. Fugir dos salgadinhos e dos lanches da escola, da pipoca, dos refrigerantes.

Ter o apoio do médico endocrinologista(ou da nutricionista) constante e frequente. Alguns medicamentos podem ajudar a partir dos 12 anos de idade. A ansiedade por comer pode ser controlada. Com todos da família ajudando e o médico orientando existe ampla possibilidade de êxito nesta terapêutica comunitária.