Hormônios para crescer  

 

O crescimento normal do bebê recém-nascido, da criança pré-escolar e escolar é objeto de cuidadosa avaliação tanto em atendimento particular como em postos de unidades primárias de saúde, na rede pública. As crianças são avaliadas por sua altura, e o médico deve observar se o ritmo de crescimento corresponde aos valores normais para a idade cronológica, isto é, a idade estabelecida em anos e meses desde o nascimento. Os desvios que mais preocupam os pais são aqueles que mostram que a menina ou o menino é mais baixo em relação ao conjunto de sua classe na escola. "Meu filho é o mais baixo da classe, doutor!". Esta é a frase mais ouvida e a queixa mais freqüente.


Na seqüência os pais costumam mostrar receio com a frase clássica "ouvi dizer que hormônio para crescer é perigoso". O medo do hormônio é resquício do passado, porque há 40 ou 50 anos, os únicos medicamentos utilizados (não por todos os especialistas) consistiam em fármacos de ação androgênica, isto é, um tipo de hormônio masculino atenuado e também denominado de anabólico. Estes medicamentos faziam sucesso pois após a sua utilização as crianças passavam a ter mais apetite, comiam melhor, ganhavam peso, estatura e adquiriam musculatura. Todos ficavam satisfeitos: o paciente, os pais e o médico.


Mas, infelizmente o uso prolongado e excessivo de anabólicos levava, com menor ou maior freqüência, ao "fechamento" das áreas de crescimento dos ossos (epífises ósseas) e a estatura adulta do paciente decepcionava. Alguns raros casos apresentavam virilização, isto é, sinais de excesso hormonal (pêlos excessivos, acne, pele oleosa, alterações genitais). Tudo isto é coisa do passado. Hoje dispomos de outros meios para garantir um tratamento mais adequado e assegurar estatura normal.


Como produzir hormônio do crescimento
Há 20 ou30 anos o hormônio de crescimento já era conhecido, mas sua obtenção era artesanal. As quantidades obtidas eram mínimas, resultando em preço elevadíssimo dado o custo de extração. A ciência nos confirma que cada mamífero possui o "seu" hormônio de crescimento específico para o desenvolvimento de sua prole. Assim o hormônio de crescimento de um primata (chimpanzé) não serve para um bezerro crescer e o hormônio de crescimento bovino não induz efeitos em humanos. A solução foi buscar hipófises (nossa glândula central) humanas e tentar extrair o hormônio de crescimento humano. Mas como já disse, hipófises disponíveis são raras e a extração difícil e trabalhosa, além de outros problemas de contaminação com vírus, outros hormônios e substâncias não desejáveis.


Com o advento da biologia molecular foi possível isolar o gene responsável pela síntese de hormônio de crescimento (chamado de GH, na sigla inglesa). O gene do GH pode ser colocado dentro um sistema biológico artificial e, em condições adequadas de nutrição, temperatura, umidade, ele passa a "soltar" no meio biológico o GH humano. Este GH é purificado, desidratado, transformado em "um pozinho branco", pronto para ser usado. É igualzinho ao hormônio de crescimento que a criança produz. Não há a mínima diferença, realizando aquilo que dele esperamos: induzir crescimento para as crianças que têm dificuldade em crescer normalmente.


A criança que precisa ser tratada com GH
O ganho estatural desde a concepção até o fim da puberdade depende do crescimento ósseo longitudinal das cartilagens de crescimento nos ossos longos (basicamente braços, pernas).Claro que fatores nutricionais, hormonais, minerais e doenças modificam o padrão normal de crescimento. Por exemplo, crianças desnutridas, sem oferta de proteínas, calorias e sais minerais não crescem bem. Crianças com doenças respiratórias crônicas (asma brônquica) têm períodos de anorexia ("não comem nada") e velocidade de crescimento anual diminuída. Além disso, os medicamentos utilizados (cortisona) nesses casos podem alterar o ritmo do crescimento. Neste grupo de crianças existe um efeito muito benéfico de hormônio de crescimento associado a cuidados de melhora da doença respiratória principal.


Anemias diminuem o ritmo de crescimento, principalmente as de fundo genético, que possuem genes formadores da hemoglobina anômala. A solução é tratar estas hemoglobinopatias. Muito importante é a avaliação de função hepática. O fígado, sob influência do GH, produz uma outra substância com o nome de IGF que estimula a cartilagem a crescer. No caso de hepatites crônicas o fígado deixa de fazer esta função apesar da criança ter GH normal. Outras doenças crônicas, sejam do sistema renal (nefropatias crônicas), seja do sistema cardíaco (cardiopatias crônicas) precisam ser avaliadas, diagnosticadas e tratadas para resultar em crescimento normal. Portanto, a terapia com GH deve ser instituída, se for o caso, após resolvidos os problemas básicos de saúde da criança bem como garantido o aporte nutricional adequado.


Avaliar se a criança tem deficiência de GH
São vários os testes que nos indicam se a criança está com falta relativa ou absoluta de secreção de GH. Pode-se solicitar que execute exercício aeróbico por 15-20 minutos. O GH normalmente eleva-se após exercício aeróbico indicando normalidade de síntese de GH. Medicamentos como clonidina ou insulina são administrados e provocam elevação rápida do GH em crianças normais. Quando estes testes indicam que há falta de produção de GH, pode-se pensar em tratamento com este hormônio. Muitas vezes a criança, nascida de pais de baixa estatura, pode apresentar retardo de crescimento idiopático. Ela cresce menos do que as outras. Já existe, hoje, indicação para o uso de GH neste grupo de crianças com resultados animadores. Mas quanto mais cedo se iniciar a terapêutica (8-9 anos) melhor o resultado. Não esperar até a puberdade, pois após depois de uma fase, os resultados são decepcionantes. O essencial é não ter receio ou preconceito contra o tratamento hormonal com GH.