Diabetes: um mal silencioso e muito perigoso  

 

É muito difícil que exista um clínico geral, um médico da Unidade Básica de Saúde e muitos outros de diversas especialidades que, em sua atividade diária, jamais tenha atendido um paciente com a seguinte informação: "meu açúcar no sangue está um pouco alto, doutor". Logo após a primeira declaração, a imensa maioria desses pacientes usa de vários artifícios semânticos para dizer que "não há ninguém na família com diabetes, doutor". Mas o inquérito rigoroso da genealogia familiar indica parentes próximos com a doença. "Meu avô tinha um pouco de açúcar mas não tomava insulina" ou "minha avó era só um pouco diabética, mas morreu com 89 anos" e assim vai a tendência da maioria de tentar ocultar a genética do diabetes, de evitar a possibilidade de ser candidato à doença, de minimizar o risco de tê-la. E o pior é que o diabetes é uma moléstia muitas vezes de início lento, com poucos sintomas e quase sempre negligenciada pelos pacientes.


Essa doença é sempre genética?


Hoje sabemos, pela Organização Mundial de Saúde, em relatório de 2006, que 1,1 bilhão de pessoas no mundo está com excesso de peso e que 312 milhões sofrem de obesidade (Índice de Massa Corporal acima de 28 kg/m2). Vários países em desenvolvimento, como o Brasil, com regiões onde a renda anual por pessoa é de cerda de 3.000 dólares anuais (ou 6.600 reais por ano) registram alto risco para a obesidade o que, fatalmente, leva a maior incidência de diabetes tipo 2 (aquela que não usa insulina).


A chance de uma pessoa tornar-se diabética é maior quando a gordura se acumula na "barriga", a chamada de obesidade andróide - mais comum no sexo masculino. Este tipo de obesidade (andróide) está ligado a fatores genéticos familiares e leva a maior risco de diabetes e outras moléstias. As mulheres tendem a acumular gordura no abdômen inferior, coxas, região glútea, com o "clássico culote", apresentando a obesidade ginoide, de menor risco para doenças vasculares e diabetes.


O que ocorre nos países emergentes?


Nos últimos 20 anos os níveis de obesidade triplicaram nos países em desenvolvimento, cujas populações adotaram padrão de vida e estilo nutricional copiados de países industrializados. Passaram a consumir exageradamente alimentos baratos (fast-food, muita gordura, muito carboidrato), com alto teor calórico, simultaneamente à rotina sedentária. Ainda mais assustador é constatar que a obesidade infantil está em patamares de 2 a 10% das crianças em idade escolar e em pré-adolescentes.


A obesidade tanto infantil como adulta ocorre com mais freqüência nas classes média e média baixa. O enorme consumo de doces, refrigerantes, sorvetes, chocolates, biscoitos de todas as formas, pães, bolos de todos os estilos é mais comum nestes segmentos populacionais. Resultado: a prevalência de diabetes tipo 2 é diretamente proporcional ao aumento da obesidade. E as projeções para 2030 são assustadoras (veja quadro abaixo).


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Diabetes abre portas para várias doenças.

A obesidade, principalmente a andróide, leva a maior risco de doenças cardiovasculares. O risco de pressão alta (hipertensão) cresce de 5 a 6 vezes nos obesos. Hoje, de acordo com as estatísticas, admite-se que 1,56 bilhão de indivíduos terá hipertensão passível de tratamento médico em 2025. Outro agravante: a tríade obesidade, diabetes e hipertensão irá afetar o funcionamento e a estrutura dos rins. A chamada "Doença Renal do Diabetes" também conhecida como Nefropatia diabética surge em cerca de 30 a 40% dos diabéticos.


Na China e na Índia, a nefropatia diabética subiu de 17%, em 1990, para 30%, em 2000. Na Índia, onde se estima um total de 30 milhões de diabéticos a previsão é de que ao menos 6,6 milhões terão doença renal crônica necessitando de cuidados hospitalares, diálise, transplante de rim, etc. Conclusão: países emergentes, como o Brasil, devem investir no controle efetivo da obesidade populacional. Autoridades precisam indicar rumos para mudanças no estilo de vida, com alimentação saudável, exercícios regulares e freqüentes. Só assim a prevenção da hipertensão e do diabetes será eficiente.